Os povos têm a palavra

Espaço Internacional

Os povos têm a palavra

Os povos são os protagonistas de uma história feita de rupturas e cujo motor é a luta de classes antagónicas. O bê-á-bá ocorreu-me ao percorrer o Espaço Internacional, cuja consigna apelava à solidariedade anti-imperialista por direitos, soberania e paz, à luta transformadora pela liberdade, a democracia e o socialismo.

Ali foi dado ênfase à evocação de acontecimentos marcantes do processo que, não isento de sobressaltos e retrocessos de grande adversidade para o proletariado, os trabalhadores e outras camadas antimonopolistas, tende invariavelmente para a superação do capitalismo. Momentos da luta dos povos como a Vitória sobre o nazi-fascismo, que este ano cumpre 70 anos merecendo justamente a exposição principal do Espaço Internacional, um debate no Palco Solidariedade (ver página 25) e um mural na fachada principal da estrutura com elementos da Guernica de Picasso. Acontecimentos como o triunfo do Vietname sobre o imperialismo norte-americano, o qual, além de um mural no Espaço Internacional, foi evocado num acto comemorativo (ver caixa nesta página); ou como os 40 anos da libertação nacional de Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, que para lá de recordada a cores garridas numa parede da «cidade», foi mote dum momento cultural no Palco Solidariedade (página 25).

Das 49 delegações de partidos comunistas e operários e forças progressistas de 36 países estrangeiros que estiveram na Festa do Avante! e se encontraram com o Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, na manhã de domingo, 6, (ver foto em cima), muitas tinham pavilhão próprio no Espaço Internacional, dando a conhecer a sua experiência, objectivos, prioridades e lutas. Alguns partidos e organizações, portuguesas incluídas, quando não desafiados pelos visitantes para o debate e o esclarecimento, tomavam a iniciativa de os abordar, convencer e mobilizar, caso de activistas do Conselho Português Para a Paz e a Cooperação que distribuíam em mão o Notícias da Paz. Uma e outra coisa a confirmarem que o ideal revolucionário e as suas teses centrais não foram remetidos para o passado atrás do absurdo «fim da história» porque os comunistas e os seus aliados, tendo memória e retendo os ensinamento valiosos, têm ainda mais projecto e vontade de o concretizar.

Momentos altos

Aos visitantes, o Espaço Internacional oferecia uma panóplia de opções gastronómicas tornando mais gostoso e saciante o convívio, bem como uma mostra de artesanato diverso e autêntico. Esse facto é só por si digno de destaque, mas não é o mais significativo.

Importa assim salientar que entre os vários momentos altos vividos no Espaço Internacional, e em particular suscitados pelos concertos no Palco Solidariedade (Mr. Blues, na sexta-feira, Tribute to Pete Seeger, no sábado, e «Músicas do Mundo e da resistência – 70.º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo», no domingo, são bons exemplos), o Momento de Solidariedade para com Cuba socialista foi o mais impressivo de todos (ver página 26).

Gerardo Hérnandez, um dos Cinco patriotas cubanos, já havia estado no Espaço Internacional, na tarde de sábado, 5. Visitou a Associação de Amizade Portugal-Cuba e a pequena exposição que frisava que o bloqueio dos EUA persiste. Recebeu o carinho e a solidariedade dos portugueses e reforçou a certeza de que para nós solidariedade não é uma palavra vã, como o não são a resistência e a persistência na luta emancipadora, pela qual «as estirpes de condenados a cem anos de solidão tenham por fim e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra», como afirmou Gabriel Garcia Márquez e se ostentava no stand do PC Colombiano. E lá voltamos ao bê-á-bá...

Lições de um triunfo

Os 40 anos da vitória do Vietname sobre a agressão do imperialismo norte-americano foram evocados domingo, 6, pelas 15h00, no Café-Concerto de Lisboa. No acto de comemoração coube a Albano Nunes, do Secretariado do Comité Central, sublinhar a importância da iniciativa, «simples mas carregada de simbolismo».

Daquele acontecimento histórico triunfante emergem grandes figuras revolucionárias, o esforço e determinação de um povo heróico, o exemplo do poder da unidade e do patriotismo associados à solidariedade do movimento comunista internacional. Os monstruosos crimes levados a cabo pelos EUA contra o povo do Vietname confirmam, por outro lado, que o capitalismo é capaz de tudo para defender os seus interesses, permanecendo esta como outra lição a reter da luta emancipadora vietnamita, a par do estímulo que o exemplo heróico do povo do Vietname constitui para as batalhas que hoje travamos contra o imperialismo, referiu Albano Nunes.

O Editor-chefe do Órgão Central do Partido Comunista do Vietname, pela sua parte, salientou que na base da vitória vietnamita esteve a visão estratégica clarividente da direcção do PCV. Manifestando-se agradecido aos comunistas portugueses pela solidariedade e fraternidade sempre demonstradas para com a acção e objectivos do povo do Vietname, Le Quoch Khanh destacou ainda o papel do PCP na luta pelo progresso e a emancipação social e nacional num contexto mundial complexo.

Nos 70 anos da vitório sobre o nazi-fascismo - A guerra não é inevitável

O perigo de uma nova guerra mundial nos nossos dias não deve ser subestimado. Mas a guerra não é inevitável: a par dos perigos para a paz e a liberdade dos povos, há forças que, se unidas e mobilizadas, podem forçar o imperialismo a recuar.

Esta foi uma ideia central saída do debate «Nos 70 anos da Vitória. Lutar contra o fascismo e a guerra», realizado no sábado, no Palco Solidariedade da Festa do Avante!. Participaram Pedro Guerreiro, do Secretariado do Comité Central do PCP, Peter Simonenko, primeiro-secretário do PC da Ucrânia, Yulia Mikhailova, do PC da Federação Russa, e Juan de Dios Villanueva, do PC de Espanha.

Os oradores convidados destacaram que a vitória na 2.ª Guerra Mundial só foi possível devido ao papel da URSS e do movimento comunista internacional e sublinharam o papel dos comunistas na resistência contra a ocupação dos seus países pelas hordas hitlerianas. Denunciaram o ressurgimento na Europa de forças de extrema-direita, incluindo a clique fascista que governa em Kiev. E manifestaram solidariedade aos comunistas da Ucrânia, perseguidos, e aos patriotas de Donbass que hoje lutam contra tropas e milícias nazi-fascistas armadas e financiadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Já Pedro Guerreiro considerou que a 2.ª Guerra não foi resultado da «maldade» dos homens mas a forma encontrada pelo capital monopolista para enfrentar a depressão capitalista desencadeada em 1929 e visou travar o desenvolvimento da luta do movimento operário e popular e o avanço do socialismo na União Soviética. Acentuou que no combate ao nazi-fascismo, «o papel determinante coube à classe operária e ao seu papel na unidade das forças anti-fascistas», tendo sido ela «a principal protagonista da resistência à ocupação, enquanto a classe dominante traía». E reforçou que «foi o povo soviético que – com mais de 20 milhões de mortos –, com actos de grande heroísmo, deu a maior e mais decisiva contribuição para a Vitória».

Para o dirigente comunista, não se pode subestimar, na complexa e instável situação internacional actual, o perigo de um conflito militar mundial. Tal como no passado, os sectores mais agressivos do grande capital apostam no fascismo e na guerra como «saída» para a crise do capitalismo e como forma de enfrentar inevitáveis explosões de revolta e transformação social. Mas «a guerra não é inevitável». A par dos perigos para a paz e a liberdade dos povos, existem também possibilidades de desenvolvimento progressista e revolucionário. E «há forças que, se unidas e mobilizadas, podem forçar a reacção e o imperialismo a recuar e a abrir caminho a uma nova era de paz e progresso social, tendo no horizonte o socialismo e o comunismo».

Solidariedade com os povos do Médio Oriente - «Continuaremos a lutar»

«Não nos renderemos, não desistiremos, continuaremos a lutar. Podem destruir as nossas casas e universidades, podem arrancar as árvores, mas não destruirão o espírito de luta». A garantia foi deixada por Maher Eltaher, da Frente Popular de Libertação da Palestina, durante um debate sob o tema «Não à agressão imperialista. Solidariedade com os povos do Médio Oriente», no domingo, na Festa do Avante!.

Participaram também Ângelo Alves, da Comissão Política do PCP, e Jamil Saleh, do Partido Comunista Libanês. O Partido Comunista Sírio não pôde enviar um representante devido à situação de guerra no país, mas mandou uma mensagem. Na assistência, junto ao Palco Solidariedade, estiveram dirigentes de outras três organizações palestinianas, além da FPLP: a Fatah, a FDLP e o Partido do Povo.

Na sua intervenção, Eltaher denunciou a «ofensiva total» do imperialismo no Médio Oriente, visando «controlar o petróleo, proteger o Estado racista de Israel, aniquilar a causa palestiniana». Afirmou que «o terrorismo islâmico é uma fabricação do imperialismo norte-americano». Recordou que os imperialistas destruíram o Iraque e a Líbia e estão a destruir a Síria e o Iémen. E prometeu que, apesar dos inimagináveis crimes cometidos na Palestina ocupada, os palestinianos continuarão a lutar pelos direitos nacionais e pelo regresso à sua terra dos milhões de refugiados. 

A intervenção de Jamil Saleh, do PC Libanês, reforçou a denúncia dos planos do imperialismo para dominar os recursos do Médio Oriente – o petróleo e o gás, mas também a água e a terra. E confirmou que o terrorismo «islâmico» é «apoiado pelo dinheiro saudita e do Qatar, com o Pentágono e a NATO por detrás».

Ângelo Alves chamou a atenção para aspectos da estratégia imperialista no Médio Oriente: os conflitos permanentes, a criação de estados confessionais, o financiamento de grupos terroristas; a tentativa de destruição da Síria, provocando o êxodo de centenas de milhares de refugiados. Para o dirigente do PCP, a Palestina é a questão central do Médio Oriente e não haverá paz enquanto não forem reconhecidos os direitos nacionais do povo palestiniano.

Luta dos povos das ex-colónias africanas - Libertação nacional festejou os 40 anos

O PCP comemorou na Festa do Avante! o 40.º aniversário da libertação nacional de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e S. Tomé e Príncipe.

No Espaço Internacional, no sábado à tarde, decorreu um momento político-cultural de celebração da vitória das lutas dos povos das antigas colónias «portuguesas» em África sobre o colonialismo.

Manuela Bernardino, do Secretariado do Comité Central do PCP, evocou as lutas armadas de libertação nacional, a partir do início da década de 60 do século XX, dirigidas em Angola pelo MPLA, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde pelo PAIGC, e em Moçambique, pela Frelimo.

Esses combates dos patriotas africanos contaram com o inequívoco apoio e a solidariedade dos comunistas portugueses, que na clandestinidade lutavam contra a ditadura fascista em Portugal. Desde esses tempos de luta forjaram-se laços de amizade e cooperação, que hoje perduram, entre o PCP e o MPLA, a Frelimo e o PAIGC e PAICV.

Com o 25 de Abril de 1974 e a Revolução dos Cravos, que derrubaram o fascismo em Portugal, intensificaram-se as lutas emancipadoras dos povos africanos, que tiveram ainda de vencer a reacção das forças colonialistas e diversas manobras do imperialismo. E assim conquistaram as suas independências em 1975 – Cabo Verde a 5 de Julho, Moçambique a 25 de Junho, S. Tomé e Príncipe a 12 de Julho e Angola a 11 de Novembro. A Guiné-Bissau já antes, em plena luta armada, a 24 de Setembro de 1973, tinha proclamado a sua independência.

Foram estes 40 anos de libertação nacional que a 39.ª edição da Festa do Avante! assinalou. No Palco Solidariedade, a intervenção de Manuela Bernardino deu lugar à nova música cabo-verdiana e o ritmo e as palavras chegaram em crioulo de São Vicente, com a actuação de Bilan, artista mindelense radicado no Porto.

Em jornal «Avante!»