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“O tapete de Arraiolos, a Arte e a Tradição de um Povo (Visitas guiadas à exposição)
com Rui Lobo, Responsável pelo CITA (Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos)
Domingo, 7
11:30, Espaço Central
Sábado, 6
15:00, Espaço Central
Sábado, 6
18:00, Espaço Central
Domingo, 7
15:00, Espaço Central
A Festa do Avante! tem, este ano, uma exposição sobre o Tapete de Arraiolos, as origens, tipologias e técnicas que o definem. Está a ser preparada uma candidatura a Património Cultural da UNESCO. Esta exposição, patente no Espaço Central, é organizada em colaboração com a Câmara Municipal de Arraiolos, através do Centro Interpretativo, que desde 2013 divulga e explica esta arte ornamental portuguesa.
Haverá exemplares expostos, visitas guiadas com técnicos da autarquia e oficinas de demonstração da feitura destes tapetes, com bordadeiras. Permanece uma aura de mistério sobre as origens dos Tapetes de Arraiolos. Não existe uma prova documental que comprove em que data foram produzidos os primeiros tapetes e por quem. O uso que era normalmente dado a esses tapetes – o de chão das casas – dificultou que muitos chegassem até nós em bom estado de conservação. Assim, existem apenas dois exemplares datados com precisão, pois a data encontra-se bordada nos próprios tapetes: 1752 e 1764. Mas as suas origens são bem mais remotas.
No que respeita à autoria, há duas teorias mais divulgadas. Uma que defende que foram feitos em conventos alentejanos, já que grande parte dos tapetes mais antigos constavam de inventários conventuais; outra aponta para famílias mouras que, após o édito de 1496, que impunha a expulsão ou a conversão ao cristianismo de mouros e judeus, migraram para o sul de Portugal, historicamente mais tolerante, seguramente por ali existir já uma tinturaria de grandes dimensões, que fornecia lã tingida para Lisboa.
Tudo indica que esta actividade fosse desenvolvida por mulheres, em âmbito doméstico, complementando a actividade dos maridos, fossem eles artesãos, comerciantes ou pequenos proprietários agrícolas.
Preservar e valorizar
A exposição da Festa será uma oportunidade para conhecer melhor esta expressão artística em todas estas dimensões – e acrescentam à lista de preocupações do PCP na valorização desta arte e do trabalho das bordadeiras, que nas últimas décadas têm sido, na Assembleia da República e nos órgãos autárquicos, motivo de intervenção. Desde a Revolução de Abril que a Câmara Municipal de Arraiolos, gerida sempre pelos comunistas e seus aliados, desenvolve um intenso trabalho de defesa, divulgação, promoção e salvaguarda do tapete de Arraiolos. Esta actividade de preservação passou pela valorização das condições de trabalho das bordadeiras.
A abertura, em 2013, do Centro de Interpretação do Tapete de Arraiolos acrescentou um projecto museológico a este esforço de valorização. Assente neste trabalho, a Câmara Municipal conseguiu em 2021 inscrever o Tapete de Arraiolos no inventário nacional de património cultural imaterial e prepara agora uma candidatura para uma classificação por parte da UNESCO como património imaterial da humanidade.
As técnicas
Nos séculos XVII, XVIII e XIX, os Tapetes de Arraiolos eram bordados sobre uma tela feita num tecido forte, nomeadamente canhamaço ou linho. Como explica Rui Miguel Lobo no estudo que realizou, «a tela era bordada com fios de lã merina tingida de várias cores através do ponto cruzado oblíquo, de forma a que todos os pontos, de forma sequencial, pudessem cobrir toda a área da tela em preenchimento do desenho previamente concebido, sendo as diferentes cores utilizadas a delinear os motivos e ornamentos esquematizados».
O ponto cruzado oblíquo, também conhecido como o ponto de Arraiolos, é uma variante do ponto de cruz, existente na Península Ibérica pelo menos desde o século XII e anteriormente conhecido como ponto de trança eslava (a origem eslava, induzida pelo nome, não pôde até hoje ser confirmada). Mas não é o único: em muitos tapetes do século XVII, os contornos e os motivos mais curvilíneos e minuciosos dos desenhos eram bordados num outro ponto, chamado ponto pé de flor.
A lã utilizada nos tapetes passava por um longo processo de preparação, que ia da tosquia à lavagem, da extracção de impurezas à penteação, do tingimento à fiação. Até meados do século XX, o tingimento era realizado por tintureiros, que utilizavam corantes e mordentes naturais.