Artes Plásticas

Exposição de desenho no espaço das artes plásticas

Num risco, uma ideia

Nas escritas ideográficas – como por exemplo o chinês, japonês, árabe – aprende-se a desenhar escrevendo ou a escrever desenhando. A relação é tão íntima que se torna inseparável e comutativa. Na cultura ocidental desenhar não é um prolongamento natural do acto de escrever. Escreve-se com sinais que se vão agregando para construir palavras que colocadas em sucessão constroem frases.

Torna-se, por isso, o desenho uma disciplina autónoma mas que nem sempre adquire autarcia. Aparece como suporte onde se desenvolvem os estudos para a realização de uma obra supostamente maior, com outro estatuto, de pintura, escultura, instalação, arquitectura. Ou enquanto registo rápido de uma ideia ou de uma situação, apontamento a que no futuro se recorrerá para desenvolver ou rejeitar.

Surge mesmo como ponto de apoio a artes fora das genealogias das artes plásticas, como o cinema e o teatro. Nessas viagens o desenho é ponto de partida para, não o cais onde se chega e ancora a obra.

Estando tão presente, recorrendo-se tão fácil e naturalmente a ele, começaram os artistas a desenhar só para desenhar, fazendo do desenho uma obra acabada. Paralelamente começaram a surgir instrumentos especiais para desenhar como os bastões de pastel seco ou de óleo a que se juntaram aos recorrentes carvões, sanguíneas e grafites de durezas variáveis e, evidentemente a que, não por acaso, se chama tinta-da-china. As dimensões dos suportes para o desenho aproximam-se das outras. O desenho que preferencialmente se riscava no plano horizontal ou nos diversos ângulos dos blocos de papel varia até a uma verticalidade que praticamente desconhecia.

O reconhecimento do desenho completa-se quando se começam a organizar exposições só de desenhos, galerias de desenho colecções em que o desenho é o núcleo.

Em 1981, Rogério Ribeiro, que muito e bem desenhava, volta à sua terra natal, Estremoz, onde realiza uma exposição de pintura e leva uma ideia fundadora dentro da cabeça: instalar uma galeria de desenho. A ideia propagou-se como fogo em planície queimada pelo sol. Uma comissão constituída por Rogério Ribeiro, Joaquim Vermelho (director do Museu Municipal de Estremoz), José Aurélio, Armando Alves, José Barros de Carvalho (vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Estremoz) e Pedro Borges (professor), mete mãos à obra. O Rogério, além de pintor excelente designer, traça o projecto da que é hoje Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz – Prof. Joaquim Vermelho, onde sucessivas exposições de desenho engrossam um acervo notável.

É uma selecção de desenhos dessa colecção que este ano se apresenta na Festa do Avante! mostrando como um simples risco transmite a clareza de uma ideia.

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