Alternativa justa urgente e possível

Espaço Central afirma política patriótica e de esquerda

Alternativa justa urgente e possível

A afirmação da justeza, necessidade e possibilidade de concretizar a política alternativa patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português esteve, este ano, em realce no Espaço Central. A exactamente um mês das eleições legislativas, marcadas para 4 de Outubro, a denúncia da política de direita protagonizada desde há décadas por PS, PSD e CDS, as suas consequências para o País, os trabalhadores e o povo e a divulgação das propostas do Partido e da CDU assumiram um lugar destacado, tanto nesta que é a «sala de visitas» da Festa do Avante! como um pouco por todo o recinto, em diversos espaços e painéis, e em muitas das intervenções proferidas em debates, sessões e no próprio comício de encerramento.

No Espaço Central (um amplo e bem organizado conjunto de pavilhões, bancas e auditórios, locais de repouso e de convívio), os visitantes eram convidados a visitar aexposição política, que se iniciava junto à entrada principal do espaço. Ao longo de um imenso percurso de corredores e «praças», a exposição era composta por textos, fotografias, cartoons, gráficos e vídeos, constituindo um todo coerente e particularmente eficaz. Na primeira parte, com paredes pintadas a negro, denunciava-se a actual expressão da crise do capitalismo e as suas consequências no País: aumento do desemprego, empobrecimento generalizado, estagnação e recessão, agravamento das injustiças e desigualdades, emigração, privatizações, degradação do regime democrático e crescente submissão do País ao estrangeiro. Tudo isto ao mesmo tempo que aumenta a riqueza dos donos dos grandes grupos económicos.

Depois desta dura e fundamentada crítica às opções políticas que trouxeram o País à sua situação actual, a exposição identificava os responsáveis por tal rumo, através de caricaturas de muitos dos que assumiram o cargo de primeiro-ministro nos últimos 39 anos: Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e Pedro Passos Coelho. O denominador comum? PS, PSD e CDS…

Luta, resistência e avanço

A segunda parte da mostra, já com as paredes pintadas de outras cores que não o negro, sublinhava a luta dos trabalhadores e do povo contra a política de direita em todas as suas expressões. Esta luta, acrescentava-se, era o caminho não apenas para isolar e derrotar o Governo (como sucedeu), como também para pôr fim à política de direita e empreender a construção de um País de justiça social, progresso e soberania.

Dando destaque às lutas lutas que se travaram, em múltiplos sectores e localidades, a exposição continha um grande ecrã onde era transmitido um filme com impressionantes imagens e sons da luta popular, num registo quase épico, que culminava com uma das Heróicas de Fernando Lopes-Graça, pela voz do coro que tem o seu nome. Juntamente com este filme, uma frase inscrita na parede contígua convidava à reflexão e, sobretudo, à acção organizada: «Valorizamos as grandes lutas e as mais modestas, afirmando que “é do pequeno que se faz grande, é pelos afluentes que o rio se alarga e avança”.»

Seguindo o trajecto da exposição, entrava-se numa nova área dedicada à submissão e dependência do País, que urge alterar, como sempre com a luta dos trabalhadores e do povo. O euro, o Tratado Orçamental ou a Governação Económica são alguns dos instrumentos de domínio com que é necessário romper para que seja possível um desenvolvimento soberano do País, em beneficício do seu povo.

Soluções e trabalho

«A alternativa e as soluções» era o nome da quarta e última parte da exposição, na qual se apelava ao reforço do PCP e da CDU, portadores da «solução para os problemas do País». As propostas, essas, eram apresentadas de forma visível e clara: renegociação da dívida, valorização do trabalho e dos trabalhadores, defesa dos sectores produtivos e da produção nacional, afirmação da propriedade social e do papel do Estado na economia, serviços públicos ao serviço do País, democratização da cultura e do desporto, defesa do regime democrático e a afirmação da soberania nacional.

A possibilidade de aplicar esta política alternativa tinha também resposta nos painéis da exposição e desenvolvimento em alguns dos debates realizados – deixemo-las então para outro texto destas páginas. Certo é que do PCP e da CDU se pode esperar o respeito pelos compromissos assumidos e trabalho, muito trabalho… Na legislatura que agora terminou, e só no que respeita a projectos de lei, os deputados do PCP apresentaram 432, contra os 167 do PSD, os 116 do PS e os 108 do CDS.

História e muito futuro

Para além da grande exposição política, no Espaço Central foram evocados acontecimentos e realizações que marcaram de forma indelével a história do Partido, do País e do mundo, com repercussões na actualidade e no futuro. A comemoração dos 70 anos da vitória sobre o nazi-fascismo, que ocupava um conjunto de painéis bem no centro do Espaço Central era visto não como uma lembrança do passado, mas como uma fonte de ensinamentos para impedir o retorno do fascismo e da guerra: lutar pela paz e contra o imperialismo são, pois, questões centrais.

Os 40 anos da Reforma Agrária e das Nacionalizações, duas das principais conquistas da Revolução de Abril, foram assinaladas num grande painel, que ocupava a parede exterior do Fórum de debates. Uma vez mais, não se tratava de uma mera lembrança, pois no Portugal com futuro por que se bate o PCP a terra será para produzir e a economia estará ao serviço do bem estar da maioria do povo e não dos lucros de uns poucos. O mesmo se passava com o painel alusivo ao Cante Alentejano e à sua consagração como Património da Humanidade: um povo fiel às suas tradições foi, em diversas ocasiões, capaz de tomar nas suas mãos os seus destinos e colocar-se na vanguarda da luta pelo pão, o trabalho, a paz e o progresso. E, acrescentamos, sê-lo-á uma e outra vez!

História e futuro estiveram também de braços dados nos locais consagrados à imprensa do Partido. Tanto nos dois painéis evocativos do percurso, características e natureza da imprensa comunista, como no prelo operado por antigos tipógrafos clandestinos, sobressaía a importância decisiva do Avante! e de O Militante na formação política dos militantes, na batalha ideológica e no alargamento do prestígio do Partido.

A constante alegria que emanava do sempre repleto Café da Amizade eo rebuliço do espaço Adere ao PCP, sempre cheio de visitantes da Festa que procuravam, junto de eleitos e dirigentes comunistas, esclarecer dúvidas e vencer hesitações (muitos só saíram de lá após preencher a sua ficha de adesão ao Partido) fizeram também o dia-a-dia do Espaço Central.

Diferentes na forma e no conteúdo

Explicar os eixos centrais da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe e os caminhos a trilhar para a sua concretização foram os objectivos do debate que se realizou domingo à tarde no Fórum, intitulado Política Patriótica e de Esquerda – Soluções para um Portugal com Futuro. Perante uma vasta e interessada audiência, os oradores que compunham a mesa (Jorge Cordeiro, Pedro Guerreiro, Agostinho Lopes, Paulo Sá e Alma Rivera) adiantaram aspectos de primordial importância para a compreensão do significado profundo da proposta política do Partido, que se integra na luta pelos seus objectivos supremos.

Da possibilidade de concretização da política patriótica e de esquerda falou Agostinho Lopes, do Comité Central, que a fez depender da luta dos trabalhadores e do povo, do alargamento da força e influência do PCP e da CDU, da mobilização dos recursos nacionais e da afirmação da soberania do País. Reafirmando a necessidade de romper com a política de direita e com as amarras externas, o membro do Comité Central demonstrou a existência de uma «base material sólida» capaz de sustentar as propostas do Partido. A renegociação da dívida e uma política fiscal mais justa são duas questões decisivas.

Pedro Guerreiro, do Secretariado, referiu-se à componente patriótica da proposta do PCP, realçando que, nas actuais condições, qualquer projecto de desenvolvimento justo e progressista requer o exercício da soberania nacional e a firme e corajosa rejeição de ingerências. O membro do Secretariado garantiu mesmo que a salvaguarda da soberania é «componente essencial da alternativa». Para Pedro Guerreiro, tal como o 25 de Abril foi um acto de afirmação patriótica, o processo contra-revolucionário iniciado em 1976 representa a capitulação ante interesses externos.

Ao deputado Paulo Sá, que uma vez mais encabeça a lista da CDU pelo Algarve, coube falar da componente de esquerda da alternativa que o PCP defende, reafirmando aqueles que são os seus eixos centrais. Considerando «manhosa» a pergunta «onde é que vão buscar o dinheiro para isso», o deputado comunista recordou que com a renegociação da dívida que o PCP propõe seria possível libertar, só em juros e comissões, 60 mil milhões de euros até 2020; com uma política fiscal que aliviasse os trabalhadores e o povo e taxasse efectivamente o grande capital, seriam libertados quase mais 10 mil milhões.

A dirigente da JCP Alma Rivera, candidata da CDU pelo círculo eleitoral de Lisboa, destacou as propostas do PCP para a juventude, que passam pelo combate à precariedade («no trabalho, na formação e na própria vida») e por uma efectiva aposta na educação pública.

Forma que é conteúdo

Projecto e valores – trabalho, honestidade e competênciafoi o lema do debate de sexta-feira, no Fórum, moderado por João Dias Coelho, da Comissão Política. As intervenções de abertura estiveram a cargo de Carla Cruz, Inês Zuber e Bernardino Soares (respectivamente deputadas na AR e PE e presidente da Câmara Municipal de Loures) e Margarida Botelho, da Comissão Política.

Se há exemplos de como a forma pode, em si mesma, ser também conteúdo, a forma que os comunistas e os seus aliados têm de estar na política é claramente um deles: como afirmou, no debate, Margarida Botelho, «trabalho, honestidade e competência» não é apenas um bom lema de campanha eleitoral; é uma realidade posta em prática por centenas de eleitos da CDU por todo o País, desde logo ao rejeitarem benefícios pelo exercício de cargos públicos. Para além de uma questão ética, este princípio garante que os eleitos «não perdem o pé» à realidade quotidiana da generalidade da população portuguesa.

Antes, já a deputada Carla Cruz tinha explicado a intervenção dos eleitos comunistas na Assembleia da República, principalmente a constante ligação aos problemas dos trabalhadores e das populações: todas as segundas-feiras, relatou, são passadas nas diversas regiões, em reuniões com associações, sindicatos e outras instituições; várias perguntas, requerimentos e propostas legislativas concretizam os compromissos assumidos nestes encontros.

Da mesma forma, Inês Zuber, deputada no Parlamento Europeu, realçou precisamente essa ligação com os problemas reais e concretos dos trabalhadores e do povo. Assim, e ao contrário dos deputados dos outros partidos, que vêm a Portugal «explicar» as vantagens do processo de integração capitalista europeu, os eleitos comunistas levam ao Parlamento Europeu os problemas e aspirações dos trabalhadores e do povo. Uma grande e reveladora diferença. O presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, desdobrou o lema da CDU – «Trabalho, Honestidade e Competência» – em exemplos concretos de como os eleitos do PCP e dos seus aliados não só têm as melhores propostas como são diferentes de todos os outros na forma como exercem o poder. Por tudo isto, realçou, «estamos em condições de governar o País».

Trabalho é questão central

O tema do debate de sábado à noite, no Fórum, «Valorizar o trabalho e os trabalhadores», constitui uma questão central da situação do País, da política dos últimos anos e da alternativa de que o País precisa, e alcançar tal objectivo depende, de forma determinante, da luta dos próprios trabalhadores.

Esta ideia perpassou as intervenções de Francisco Lopes,Jaime Toga e Paulo Raimundo, membros dos organismos executivos do Comité Central do PCP, Jorge Machado, deputado e membro da DOR Porto do Partido, e Maria João Antunes, dirigente sindical e membro da DOR Porto da JCP.

Após as grandes transformações e conquistas alcançadas com o 25 de Abril, a política de direita dos últimos 39 anos seguiu um rumo contrário à valorização do trabalho e dos trabalhadores, começou por lembrar Francisco Lopes, que moderou o debate. Tal política agravou-se nos últimos anos, com os PEC (programas «de estabilidade e crescimento» do governo do PS) e com o pacto de agressão (o «memorando» imposto pelo FMI, a UE e o BCE e aceite por PS, PSD e CDS). Nuns e noutro foram inscritas medidas para agravamento da exploração e do empobrecimento dos trabalhadores, a par do afundamento e do declínio do País. Esta demonstrou ser uma política de classe, que ao mesmo tempo propiciou o aumento colossal dos lucros do grande capital.

O agravamento da exploração dos trabalhadores e a acentuada concentração da riqueza, resultado notório de tal política, comprovam que se trata de um programa político, executado nos últimos quatro anos pelo PSD e o CDS-PP, observou Jorge Machado, que ilustrou com números do balanço parlamentar o combate do PCP na AR, pela valorização do trabalho e dos trabalhadores.

Paulo Raimundo destacou, citando exemplos recentes, que a corajosa luta dos trabalhadores e da população fez frente a essa política e a muitas medidas e dificultou a concretização dos planos do Governo. Tal foi possível porque persiste um movimento sindical de classe, os trabalhadores estiveram unidos e o PCP afirmou-se como referência para a luta.

A valorização do trabalho e dos trabalhadores tem que significar uma mais justa distribuição da riqueza, uma melhor repartição do rendimento nacional, realçou Jaime Toga, que integrou aquela meta nos vectores que orientam a política patriótica e de esquerda proposta pelo PCP – cujas propostas são o oposto do que o PS, como o PSD e o CDS, têm feito e querem prosseguir.

Sobre os jovens, os efeitos da política de direita são especialmente dramáticos, afirmou Maria João Antunes, que se deteve sobre o crescimento do desemprego e da precariedade (em especial por via das empresas de trabalho temporário, com grande peso nas operadores de telecomunicações). A resistência reflectiu-se na sindicalização de 14 mil jovens, desde 2012.

As duas intervenções do público focaram as perdas dos trabalhadores e os ganhos do capital na partilha do rendimento, visíveis em dados oficiais; o mau exemplo do Estado na promoção da precariedade, sobretudo com os contratos CEI; a importância da luta dos trabalhadores e a coragem dos muitos que aceitam ser delegados e dirigentes sindicais.

Foi salientada a importância de uma forte votação na Coligação PCP-PEV, também para dar força à luta que vai prosseguir depois de 4 de Outubro.

Soberania nas mãos do povo

Com os debates «Portugal soberano numa Europa dos povos», no Fórum, e «TTIP – Uma ameaça contra os trabalhadores e os povos», a independência nacional e a liberdade de cada povo escolher o seu rumo de desenvolvimento, colocadas em causa pela política da União Europeia e do Governo submisso do PSD/CDS-PP, tiveram justificado realce.

No Fórum, ao fim da tarde de sábado, Albano Nunes (do Secretariado do Comité Central do Partido e director de «O Militante»), Ângelo Alves (da Comissão Política do CC, responsável pelas áreas da integração europeia, assuntos internacionais e política externa) e António Filipe (deputado e membro do CC) lembraram que a questão nacional tem sido um ponto fulcral na linha política do PCP, partido patriótico e internacionalista, designadamente no Programa para a revolução democrática e nacional (1965) e no Programa actual (2012), bem como no Programa Eleitoral do Partido para as eleições de 4 de Outubro.

A entrada na CEE, como o PCP preveniu ainda durante o fascismo, veio dificultar o desenvolvimento independente de Portugal; a posterior submissão à moeda única e a presente crise, com os casos mais recentes da Grécia e dos refugiados (este último contemplado no espaço «À Conversa com...», sobre «Uma política de migrações respeitadora dos direitos humanos», sábado à noite, com Rui Fernandes, da Comissão Política do PCP, e Inês Zuber, do CC e deputada no Parlamento Europeu), vieram comprovar a verdadeira natureza do processo de integração capitalista na Europa, que se destina a garantir os interesses dos grandes grupos económicos e das principais potências. Reafirmou-se que esta União Europeia não é «reformável» e que é necessária uma ruptura, para libertar o País dos constrangimentos criados pela política de recuperação capitalista, latifundista e imperialista. No debate foi manifestada especial preocupação quanto aos últimos redutos da soberania: a Defesa Nacional e a Justiça.

No Auditório, poucas horas antes, Vladimiro Vale, da Comissão Política, Ricardo Oliveira, do CC, e Miguel Viegas, deputado no PE, tinham fundamentado a afirmação de que o Tratado TTIP (que está a ser secretamente negociado entre a UE e os EUA) constitui uma ameaça contra os trabalhadores e os povos. Para acelerar a concentração de capital e garantir rendibilidade superior no actual momento do imperialismo, está em preparação uma grave limitação da soberania dos estados e da democracia. Em vez de se juntar ao movimento de rejeição do TTIP, a social-democracia mostra-se pronta a «fazer o frete» aos promotores do Tratado.

Para construir as bases de um caminho independente, o PCP confia na força do povo e apela ao voto na CDU, a 4 de Outubro, pela renegociação da dívida, pela preparação do País para uma saída do euro e pelo controlo público dos sectores estratégicos da economia.

Contra o imperialismo e a guerra

Contra a estratégia do imperialismo – lutar pela paz foi o mote de um animado debate, realizado no sábado à tarde no espaço «À conversa com...», em que participaram o membro da Comissão Política Carlos Gonçalves e Ilda Figueiredo, do Comité Central e presidente da direcção nacional do CPPC. Não sendo a única, a guerra de agressão e rapina é, porventura, a mais brutal expressão do imperialismo. A luta pela paz e pela solidariedade é, assim, uma frente fundamental de luta anti-imperialista, que assume no quadro actual uma importância decisiva.

A poucos dias do início daqueles que serão dos maiores exercícios militares da história da NATO, envolvendo Portugal, o assunto mereceu destaque na conversa. Sublinhada foi a necessidade de, uma vez mais, o povo português expressar de forma veemente o seu repúdio pela guerra e pela NATO, exigindo a sua dissolução. No Programa do PCP, a libertação de Portugal do imperialismo é uma vertente essencial para a concretização dos seus objectivos de emancipação social e soberania nacional.

Pôr cobro ao saque

Um filão gigantesco para os grandes grupos económicos e um elemento chave no processo de reconstituição do capitalismo monopolista – assim têm sido as privatizações, com prejuízos incalculáveis para o País. Pôr cobro a esta política de saque dos recursos nacionais, colocando sob controlo público as empresas e sectores estratégicos, assume por isso um carácter imperativo inadiável. Sem essa ruptura no quadro da política patriótica e de esquerda que o PCP defende «não é possível resolver os problemas do País», salientou Armindo Miranda, da Comissão Política, no primeiro debate, sexta-feira, no Auditório no Pavilhão Central, em que participou também o deputado e membro do CC Bruno Dias.

Caracterizadas como autêntico «crime contra o País», as privatizações, bem como outras formas de venda dos recursos nacionais ao desbarato, têm significado a transferência da nossa riqueza para o capital nacional e estrangeiro, isto a par das consequências lesivas para os utentes e as populações, seja ao nível da inflação dos preços (no serviço postal, por exemplo), ou do fecho de linhas, como na ferrovia.

O foco da crítica incidiu ainda sobre a «opacidade» nas privatizações, facto que não é dissociável da subordinação crescente do poder político ao poder económico, em afronta à Constituição.

Escândalos da banca

As privatizações e a relação promiscua com o capital monopolista (fusão do capital bancário com o industrial) têm nos escândalos da banca, em particular no caso BES/GES, um dos testemunhos mais elucidativos, sublinhou-se noutro debate do Auditório com Jorge Pires, da Comissão Política, e o deputado Miguel Tiago.

Em relevo esteve o facto de o BES, desde a sua criação, ter crescido ligado ao poder político (no fascismo e em democracia), nunca deixando de tirar partido disso como sucedeu aquando da sua privatização em 1991 (em que a família compra o banco sem despender um tostão, beneficiando dos favores do governo liderado por Mário Soares), com quadros seus (ou que o vieram a ser na permanente dança de cadeiras) a assumirem funções governativas.

Parte significativa do endividamento público, como foi referido, advém da actividade especulativa dos bancos, que ignoram qualquer outra lei que não a da obtenção do lucro máximo, como se demonstra no livro lançado na Festa pela Editorial Avante! sobre o caso BES/GES.

Outro dado deixado à reflexão dos presentes: nos 20 anos seguintes à privatização, o BES gerou lucros de quatro mil milhões de euros que foram distribuídos em dividendos pelos seus accionistas; na hora de finados o banco deixou um buraco de 4,9 milhões, lesando depositantes e Estado.

Razões de sobra para o controlo público da banca, como defende o PCP, pois a «moeda, a banca e o crédito são demasiado importantes para estarem nas mãos de privados».

Segurança Social, Saúde e Ensino

Duas ideias-chave: primeira, nenhum sistema de Segurança Social como o nosso – público, solidário e universal – é sustentável com a política de direita, porque esta assenta em baixos salários, precariedade, desemprego (tudo sinónimo de menos receitas); segunda, a mãe de todas as medidas para garantir a sustentabilidade é o crescimento do emprego. Indissociáveis, estas foram duas das principais teses defendidas e consensualizadas no debate sobre Segurança Social que iniciou o ciclo relacionado com áreas sociais e funções do Estado, incluindo o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública.

Fernanda Mateus, da Comissão Política, falou da importância do sistema público de Segurança Social e de como este faz falta ao País e ao povo, sublinhando a exigência de pôr fim aos ataques de que é alvo e de lutar pela ruptura que acabe com a alternância sem alternativa.José Augusto, da CGTP-IN, abordou a luta dos trabalhadores e a sua resposta à ofensiva da política de direita, o aumento da exploração, o ataque aos direitos, o desemprego e a diminuição da protecção social. Isabel Quintas, candidata da CDU e dirigente do MURPI, pôs o enfoque nos direitos dos reformados. João Oliveira, líder da bancada comunista, falou da política patriótica e de esquerda e das propostas do PCP, como o reforço do financiamento do sistema através da diversificação das fontes de financiamento, elevação da protecção social dos trabalhadores, redução da idade de reforma para os 65 anos ou a garantia do direito à pensão sem cortes.

A concluir deixou uma pergunta directa e simples: «que deputados querem os portugueses ter na AR? Quem defenda propostas como estas ou deputados que levem mais longe a política de direita?»

Pela ruptura

De sentido idêntico foi também essa, em síntese, a grande questão que rematou o debate sobre o SNS e a garantia do acesso à Saúde, moderado por Octávio Augusto, com a participação do enfermeiro Pedro Frias e da deputada Paula Santos. «Com o PS, PSD e CDS já se sabe o que aí vem, mais cortes, taxas moderadoras, falta de profissionais, fecho de serviços, privatização», foi dito, num sublinhado de advertência que a «saúde deixou de ser um direito de todos para passar a ser negócio de alguns», e que a «defesa do direito à Saúde, a defesa do SNS só é possível com a ruptura com esta política».

A mesma tónica – mas no capítulo do ensino e educação – dominou o debate onde o tema foi a defesa da Escola Pública, dirigido pela deputada Rita Rato, e no qual intervieram os dirigentes sindicais Ana Rita Carvalhais eMário Nogueira, e o estudante Duarte Alves.

Defender a Escola Pública como a Constituição consagra – democrática, para todos, gratuita, inclusiva, de qualidade –, que seja um factor de igualdade de oportunidades, exige inverter o rumo seguido quer por governos do PS quer do PSD/CDS, apostados, como foi notório nestes quatro anos, em reduzir custos na Educação, eliminar postos de trabalho de professores e pessoal não docente, elitizar o ensino e aprofundar o caminho da sua privatização, como é patente a sua aposta em levar por diante a chamada municipalização.

Cultura ao serviço do povo

A Cultura, componente indissociável da democracia avançada que o PCP defende, esteve em debate no sábado, no espaço «À Conversa com...», em que participaram Jorge FelicianoJosé António Gomes e Manuel Pires da Rocha. É inadmissível que a Cultura tenha sido relegada para uma Secretaria de Estado e tenha merecido apenas 0,1% no Orçamento do Estado, quando o mínimo aceitável seria 1%, lembraram. O problema não é a falta de infra-estruturas, há-as e preparadas para grandes espectáculos, só que esses espaços não estão ao serviço da população. Por isso o PCP, que combate os cortes brutais na Cultura e a crescente desresponsabilização do Estado nesta área, está solidário com os subscritores do Manifesto em Defesa da Cultura.

Os oradores falaram ainda da inexistência de uma ligação entre a Educação e a Cultura. A «palavra de ordem» dos últimos governos tem sido a de «educar para a profissão», tratando as questões culturais como mero «adereço do mundo do trabalho» e um «bem de consumo», com total desprezo pela descoberta e a criatividade.

O debate prolongou-se com inúmeras intervenções da assistência, uma das quais lembrou a importância de transformar a cultura em arma.

O Cante Alentejano, recentemente declarado pela Unesco como Património Cultural Imaterial da Humanidade – que perpassou um pouco toda a Festa – não podia também deixar de ser lembrado, merecendo inclusive um debate, onde intervieram João RamosLuísa Araújo e Paulo Ribeiro.

Em jornal «Avante!»