XVI Bienal de Artes Plásticas
Segunda, 15 Junho 2009

2009 é ano de Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante!, já na sua 16.ª edição. Uma Bienal cujas características mudaram ao longo dos seus trinta e dois anos de vida mas que mantém os aspectos essenciais que a tornam única, tal como o é a Festa em que se insere.
Em primeiro lugar, o seu carácter aberto, com a participação de artistas – mais ou menos jovens – que têm na Bienal talvez a única oportunidade actualmente existente para expor as suas obras ao público mesmo ao lado de trabalhos de artistas consagrados.
Depois, o facto que resulta da sua integração na Festa, ou seja, a possibilidade de as obras expostas serem vistas por um público interessado e atento composto de muitas dezenas de milhares de pessoas no decurso de três dias.
A Bienal da Festa não pretende comparar-se com outras exposições colectivas que se realizam periodicamente noutros locais do País. Até porque não tem intuito mercantil, não privilegia nenhuma opção formal e estética ou corrente artística. Procura, através de um júri de selecção, garantir um nível relativamente exigente de qualidade formal, técnica e estética, no quadro de uma grande pluralidade de expressões. Procura proporcionar um encontro enriquecedor entre artistas e um público alargado, sem concessões de parte a parte.
É próprio da arte interrogar, suscitar inquietações, seguir caminhos anteriormente não trilhados. E é nesse terreno que a criação artística e as lutas pela transformação do mundo e da vida social podem convergir. Nem a luta política transformadora pode prescindir da cultura e da arte, nem a cultura e a arte fazem verdadeiramente sentido desligadas do movimento da sociedade.
Nesta 16.ª Bienal, e seguindo a tradição de juntar à Bienal outras obras a que se pretende dar especial destaque, integram-se três núcleos diferenciados:
- Um dedicado a dois grandes artistas, Bartolomeu Cid dos Santos e Luís Ralha, figuras maiores da arte portuguesa no século XX, participantes de sempre nesta iniciativa;
- Uma outra, comissariada pelo escultor Sérgio Vicente, expondo um conjunto de esculturas de jovens estudantes da FBAUL;
- E uma obra, constituída por nove painéis pintados por Eduardo Neves, complementados por textos de Manuel Augusto Araújo que, no seu conjunto, constituem uma reflexão sobre os mecanismos da crítica de arte associada à mercantilização dos objectos artísticos e às respectivas estratégias de promoção.
Na Bienal estarão patentes, numa área de 600 m2 cerca de 90 obras, seleccionadas de Norte a Sul do País. Obras de pintura, escultura, gravura, desenho, fotografia, numa grande diversidade e riqueza de expressões e percursos criativos. Vai merecer a pena percorrer com atenção a XVI Bienal!

Luís Ralha

«”Toda a arte tem uma função social, toda a proposta contém uma ideia sobre o mundo e sobre a espécie humana” dizia repetidamente Luís Ralha. (...)
«Olhando para os seus quadros poderemos legitimamente presumir que é um trabalho que avança com propositada lentidão, como pão a levedar, a ser cozinhado em forno lento para adquirir toda a paleta dos seus sabores. Poderemos imaginar o pintor experimentando o prazer da mão empunhando os pincéis que fazem crescer na tela a imagem que ele sabe ir fazer aparecer mas que adquire toques inesperados logo aceites ou rejeitados, até um dia a dar por acabada.
«Contrariamente a esse exercício pictórico as esculturas que projectou, algumas foram realizadas sendo a mais conhecida a que está em Alverca, comemorando os 30 anos do 25 de Abril, é enxuta da multiplicação de sinais tendo uma leitura mais imediata, o que não é sinónimo de menor complexidade. O conhecimento dos materiais e da sua manipulação conformam e enformam a expressão artística de Luís Ralha “em permanente confronto com todas as áreas de conhecimento”.»

Bartolomeu Cid dos Santos

«Bartolomeu dos Santos é na gravura um dos artistas mais importantes a nível mundial no séc. XX, tanto pela sua obra como pela sua actividade como professor na Slade School, em Londres, que alterou radical e universalmente o ensino dessa disciplina artística.
Bartolomeu, o «Barto» como era conhecido pelos amigos, era um homem extraordinário que quase até ao fim da sua vida a viveu com a mesma energia de um jovem acabado de entrar em rompante vigoroso na idade adulta. Extraordinário pelas memórias que não deixava armazenadas nas prateleiras, recuperando-as e transformando-as em sucessos na hora e no dia em que estava sentado e que partilhava entusiasmado para que nada se repetisse, tudo se transfigurasse e que muitas vezes acabasse por adquirir o registo de obra de arte. (...)
«A sua obra é de grande singularidade. Percorre-a uma inquietação sem limites que o faz mergulhar na aventura do mundo para o interrogar e questionar em todos os azimutes. Propõe questões que problematizam as relações entre o mundo colectivo e o mundo individual, e se olha para o seu mundo interior perscrutando-o. A crítica política violenta esteve sempre presente na sua obra desde o combate ao fascismo à denúncia feroz do imperialismo norte-americano.
Bartolomeu dos Santos é o gravador português mais importante de sempre e um dos maiores gravadores da História de Arte Contemporânea.»

(Manuel Augusto Araújo, in Avante!, 16 de Julho de 2009) 

 

Regulamento XVI Bienal de Artes Plásticas da Festa do «Avante!» 2009 - PDF